Judith Butler – O Clamor de Antígona (Parte 1)

Hoje trataremos do primeiro capítulo da obra O Clamor de Antígona escrito por Judith Butler, filósofa estadunidense e pós-estruturalista, que foi publicado em meados dos anos 2000.

No início do texto O Clamor de Antígona, Butler nos conta sobre suas reflexões acerca de Antígona e se pergunta “o que havia acontecido com aqueles esforços feministas para confrontar e desafiar o Estado” (Butler, 2007, p. 17). A ideia de Butler era fazer um estudo que pudesse relacionar a luta feminista na política atual, que está buscando representatividade e apoio do Estado, com o papel que Antígona tomou na peça de Sófocles ao estar numa posição que não era comum para uma mulher daquela época e muito menos considerado algo aceitável.

Ao decorrer do texto, Butler busca ler outros teóricos que haviam estudado Antígona e ver a opinião deles acerca da representatividade da personagem principal e nenhum dos textos até então criados menciona ou se aprofunda nesse olhar feminista como representativo de Antígona. Butler menciona que Hegel coloca Antígona “no lugar da transição da regra matriarcal para patriarcal, mas também para o princípio do parentesco.” (p. 18) Já a autora Luce Irigaray “de forma hesitante quanto a essa representatividade de Antígona, insiste nisso: Sempre vale a pena refletir sobre seu exemplo como figura histórica e como uma identidade e identificação para várias meninas e mulheres vivendo hoje. Para essa reflexão, devemos abstrair Antígona dos discursos sedutores e redutíveis e ouvir o que ela tem a dizer sobre o governo da pólis, sua ordem e suas leis (Speculum, p. 70)”. (p. 18)

Porém, Butler questiona se Antígona pode ser transformada em algum exemplo da política feminista já que “sua própria função representativa encontra-se em crise?” (p.18) No entanto, Antígona também está distante do que os outros autores mencionam ser representativos dos princípios normativos do parentesco ou para a questão política. Como a própria autora afirma: “…como figura para a política, ela aponta para outra direção, não para a política como uma questão de representação, mas para aquela possibilidade política que emerge quando os limites da representação e da representabilidade são expostos.” (p.18)

Outro ponto levantado pela autora que me chama atenção é quando traz a questão de gênero para discutir a peça. Quando lemos Antígona observamos que Creonte não suporta que o crime tenha sido cometido por uma mulher, como se somente um homem ousasse fazer aquele tipo de ação. Segundo Butler, Creonte sente-se “desmasculinizado pela rebeldia de Antígona” (p.24) e “em seu ato, ela transgride as normas de gênero e parentesco.” (p.24) Assim também a autora menciona que “tanto o ato de enterrar quanto a rebeldia verbal de Antígona tornam-se ocasiões em que ela é considerada ‘masculina’ pelo coro, por Creonte e pelos mensageiros.” (p.27) Butler afirma que “Antígona, portanto, acaba agindo de formas que são consideradas masculinas não apenas porque ela desafia a lei, mas também porque ela assume a voz da lei ao cometer seu ato contra esta.” (p.29)

Por fim, Butler retorna para o parentesco e diz “parece-me obscuro, se Antígona representa o parentesco, ou, caso ela represente, que tipo de parentesco seria esse.” (p.27) e reafirma “assim, ela age não em nome do deus do parentesco, mas para transgredir os próprios mandamentos desses deuses, uma transgressão que confere ao parentesco sua dimensão proibitiva e normativa, mas que também expõe a sua vulnerabilidade.” (p.28-29) Ou seja, a forma representativa de Antígona não foi 100% concluída ou concordada em forma de estudo. Talvez Antígona represente o parentesco, o feminismo e a política todos juntos, mas sendo olhado em diferentes perspectivas e momentos.

Foto: Judith Butler. Imagem: Reproduzida do Google

 

Leave a comment